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domingo, 1 de agosto de 2010

1 noite em 67. Final do 3º Festival de MPB


Como transformar um programa de televisão em História? Nem os envolvidos parecem saber. "Só queríamos fazer um bom programa de TV", confessa Solano Ribeiro, produtor do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, cuja noite de encerramento, em 21 de outubro de 1967, terminou sendo histórica, com direito a violão quebrado, guitarras estridentes, urros de alegria e vaias.
O documentário "Uma noite em 67", em estreia nacional, combina imagens de arquivo da Rede Record, que coproduz o filme, com depoimentos de personagens fundamentais do evento, como Caetano Veloso, Edu Lobo, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Sérgio Ricardo e Roberto Carlos - que foram entrevistados pelos diretores do filme, Ricardo Calil e Renato Terra, 43 anos depois daquela final.
Como o filme mostra, aqueles eram tempos conturbados, de incertezas e mudanças políticas e culturais. Em plena ditadura militar, era uma época de protestos. Tudo era motivo para sair na rua carregando faixas contra qualquer coisa - até as guitarras elétricas, consideradas por alguns artistas como um sinônimo do imperialismo norte-americano. Por isso, acabou sendo uma atitude também política quando Caetano subiu ao palco para cantar "Alegria, Alegria" acompanhado de tais instrumentos. Aos poucos, as vaias se dissiparam e a beleza da música jogou para escanteio qualquer preconceito artístico.
Fica claro que o amor pela música impulsionou o trabalho dos diretores de "Uma noite em 67", Calil e Terra, respectivamente crítico de cinema e publicitário, ambos estreantes em cinema. No documentário, não se recorre a invencionices, gráficos, desenhos ou qualquer recurso visual para desviar a atenção. O filme é documentário em sua essência, informativo e carinhoso, sem cair nunca num didatismo enfadonho.
Diálogo entre passado e presente
A montagem de Jordana Berg cria um diálogo entre o passado (imagens de arquivo) e o presente (entrevistas atuais). É curioso ver como esses artistas olham para o passado, para uma época em que seus nomes começavam a ganhar notoriedade.
O compositor Edu Lobo diz que se via mais maduro naquele tempo, quando tinha 20 e poucos anos. Já Chico Buarque diz com seu famoso sorriso que "não fica pensando nessas histórias velhas". E Sergio Ricardo explica em detalhes as emoções que o dominaram, levando-o a quebrar seu violão e atirá-lo no público, que vaiava sem cessar sua interpretação de "Beto bom de bola".
Já seria mais do que suficiente se "Uma noite em 67" fosse um retrato, mesmo que um tanto nostálgico, daquela época, resgatando a memória dos que viveram o período e revelando um pouco dos festivais de música para os jovens de hoje. No entanto, o documentário vai além disso, numa época pré-AI-5, quando não se vivia ainda nos anos de chumbo.
Há um quê de inocência nas músicas, apesar de suas críticas sociais - como em "Domingo no Parque", que Gil cantou com os Mutantes -, "Alegria, Alegria" e "Roda Viva" - interpretada por Chico e o MPB-4. Os próprios entrevistados relembram não apenas daquela noite em 67, mas também da trajetória da música, de sua criação, entre outras coisas.
Se no palco o momento era de mudanças radicais na música, na plateia e bastidores o clima era de pura descontração, de um humor quase nonsense. Entre uma música e outra, andando nos bastidores, o apresentador Randal Juliano comenta com sua colega que segura o outro microfone: "Seu vestido é muito bonito, essa cor é nova, né?". Ao que Cidinha Campos prontamente responde: "É rosa-choque, com verde-chuchu".
Partindo de um marco da televisão e da MPB - há muitos outros em vários outros festivais -, os diretores Calil e Terra fazem uma ótima meditação sobre o poder e o papel da música, tanto como elemento de diversão, como de transformação, ou representação de um momento histórico.
Fonte:G1

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